quarta-feira, 29 de maio de 2013

ERGONOMIA EM AMBIENTE HOSPITALAR



1 INTRODUÇÃO




Esta pesquisa teve como propósito discutir como a ergonomia pode elaborar estratégias para reduzir problemas músculoesqueléticos na enfermagem, já que o ambiente hospitalar traz uma série de problemas ergonômicos, afetando a saúde do trabalhador deste meio, como refere Alexandre (1998).
  “As transformações ocorridas nas últimas décadas no mundo do trabalho tem repercutido na saúde dos indivíduos e do coletivo de trabalhadores de forma intensiva” (ELIAS; NAVARRO, 2006).
  Para a redução de problemas ergonômicos, convém salientar que é necessário trabalhar a ergonomia. “Para a ergonomia, as condições de trabalho são representadas por um conjunto de fatores interdependentes, que atuam direta ou indiretamente na qualidade de vida das pessoas e nos resultados do próprio trabalho” (MARZIALE; ROBAZZI, 2000).
  A enfermagem de forma geral está exposta a condições de trabalho que potencializa as possibilidades de adoecimento. Só é possível cuidar do outro, a partir do momento que o profissional está bem mentalmente e fisicamente.
  Diante do exposto, é de real importância a aplicação dos princípios ergonômicos para a enfermagem em virtude do desenvolvimento profissional.







2 OBJETIVOS


2.1 Objetivo geral

  Esclarecer como a ergonomia favorece a redução de problemas músculoesqueléticos para a enfermagem.

2.2 Objetivos Específicos

2.2.1Levantar os fatores que desencadeiam os problemas músculoesqueléticos para a enfermagem;
2.2.2 Identificar os problemas músculoesqueléticos;
2.2.3Enunciar as medidas preventivas para redução dos problemas músculoesqueléticos.












3 JUSTIFICATIVA


  A pesquisa sobre como a ergonomia pode reduzir problemas músculoesqueléticos na enfermagem se justifica pelo fato de que desde a década de 40, a Organização Internacional do Trabalho (OIT), tem referido às condições inadequadas de trabalho nos hospitais e recomendado a higiene e a segurança com intuito de adequar as condições de trabalho a estes trabalhadores, como refere Marziale; Robazzi (2000).
  A condição de trabalho hospitalar como inadequada ao trabalhador é palco de muitas discussões e publicações, porém pouco se faz na prática e na rotina hospitalar no que diz respeito à ergonomia, como refere Barboza; Soler (2003).
O hospital, de maneira geral é reconhecido como um ambiente insalubre, penoso e perigoso para os que ali trabalham. Além dos riscos de acidentes e doenças de ordem física aos quais os trabalhadores hospitalares estão expostos... (ELIAS; NAVARRO, 2006).
           
  “Os trabalhadores de enfermagem são um dos grupos ocupacionais mais afetados por algias e lesões dorsais ocupacionais” (GUO et al, 1995; LAGERSTROM; HANSSONT; HAGBBERG, 1998 apud PARADA; ALEXANDRE; BENATTI, 2002).
  Convém salientar que a ergonomia é a medida de maior importância para reduzir problemas que originam de trabalho e que leva a doenças músculoesquelético. Para que tal fato não ocorra em grande proporção, é necessário que seja difundido em maior escala os quanto os aspectos ergonômicos são importantes para o ambiente de trabalho.

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GUO HR et al. Back pain among workers in the United States: national estimates and works at high risk. Am J Ind Med 1995; 28(5): 591 – 602
LAGERSTROM M; HANSSONT; HAGBBERG M. Work related low back problems in nursing. Second J Works Environ Health 1998, 24(6): 449 – 64



4 METODOLOGIA


  Trata-se de uma pesquisa de revisão bibliográfica com busca no site científico da Bireme. Os textos científicos encontrados datam do período de 1998 a 2008.

A pesquisa bibliográfica – elemento imprescindível para a revisão e virtual expansão do conhecimento - deve ser entendida como aquela baseada nos livros e demais impressos disponíveis, inclusive documentos manuscritos (às vezes denominada de pesquisa documental), e outras fontes pertinentes, onde se busca encontrar resposta aos problemas formulados; restando saber como se organizam e como podem ser organizadas as informações acessadas. (CERVO; BERVIAN, 1983 apud SILVA, 2002)

























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CERVO AL; BERVIAN PA. Metodologia científica: para uso dos estudantes universitários. 3.ed. São Paulo: Mc Graw – Hill, 1983

5 ERGONOMIA:UMA ESTRATÉGIA PARA REDUÇÃO DE PROBLEMAS MÚSCULOESQUELÉTICOS NA ENFERMAGEM


5.1 Relação histórica entre o trabalho e os efeitos sobre a saúde

            Faz parte da vida e da cultura da humanidade as relações entre o trabalho e o adoecer. A Bíblia, em Deuteronômio XXII: 8, fala da prevenção de acidentes de trabalho. No final do século XVII e início do século XVIII, já se falava de doenças ocupacionais, de formas de prevenir e tratar enfermidades. No século XIX, é que de fato surgiram à prevenção de agressões contra a saúde, associadas ao trabalho e reconhecendo que este é um dos aspectos importantes das condições de vida, como refere Santana (2006).
            As diversas mudanças ocorridas na organização, nas condições e nas relações de trabalho, principalmente nos países capitalistas avançados ou tardios, vem repercutindo na saúde dos trabalhadores, que empenham grande parte de suas energias físicas e espirituais em função do trabalho, segundo Elias; Navarro (2006).
            No Brasil, os registros de problemas relacionados à saúde do trabalhador, datam do século XIX, porém a incorporação da prática ocorreu bem tarde, nas escolas médicas, de acordo com Santana (2006).
            No Brasil, a Constituição Federal de 1988 determinou a redução da jornada de trabalho em turno “ininterruptos de revezamento” com redução diária da jornada de trabalho a 6 horas ou negociação coletiva (BRASIL, 1988 apud MORENO; FISCHER; ROTENBERG, 2003).
De acordo com Mauro (2007), na era industrial, nasceu uma técnica que hoje se transformou em uma ciência. As adaptações dos instrumentos como as características da ergonomia, visam à redução de fadiga e acidentes.
             


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BRASIL. Constituição Federal do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988
Com a capacitação, os novos equipamentos exigiam dos operários mais habilidades em condições ambientais desfavoráveis e tensas. Na ergonomia clássica, centrado na adaptação da máquina ao homem, o tratamento ergonômico e mensuração de ambiente antropométrico, medições que estudam a adaptação do trabalho ao trabalhador, em relação à ambientes, equipamentos e roupas.
  “Uma transformação saudável no processo de trabalho certamente terá repercussões positivas para a saúde do trabalhador estabelecendo um novo paradigma” (MAURO, 2007).

5.2 Saúde do trabalhador

  “Cada trabalhador apresenta diferenças com relação à estatura, peso, resistência à fadiga, capacidade auditiva e visual, memória, habilidade motora e personalidades, e que devem ser considerados no ambiente de trabalho” (IIDA, 1990 apud MARZIALE; CARVALHO, 1998).
  Diante deste fato as relações entre saúde-doença-trabalho têm ganhado destaque na área de saúde ocupacional destacando-se:
Como prejuízos à saúde física e mental dos trabalhadores: prolongadas jornadas de trabalho; ritmo acelerado de produção, por excesso de tarefas; automação por realização de ações repetitivas com parcelamento de tarefas e remuneração baixa em relação à responsabilidade e complexidade das tarefas executadas (BARBOZA; SOLER, 2003).
           
  Fatores físicos, químicos, psicossociais e ergonômicos, devem ser analisados para que se possam caracterizar as condições de trabalho hospitalar em cada instituição, de acordo com Marziale; Carvalho (1998).



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IIDA I. Ergonomia: projeto e produção. São Paulo: Edgard Blucher, 1990. 465 p.


Entende-se por acidente típico aquele que “ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa” (...) “Provocando lesão corporal ou perturbação funcional que causa a morte ou a perda ou redução permanente ou temporária da capacidade para o trabalho”.(OLIVEIRA, 1992 apud PARADA; ALEXANDRE BENATTI, 2002).

“O trabalhador tem, por sua vez, consciência de sua capacidade técnica e sabe que, para exercitá-la, precisa ter saúde” (ABRAMIDES; CABRAL, 2003 apud AGUIAR et al, 2009).
  O adoecer na sociedade capitalista é vergonhoso pois atrapalha a produção, devendo ser negado, para Elias; Navarro (2006).
O trabalho da enfermagem é intenso, desgastante... Se a saúde está ligada à liberdade, o trabalho no hospital onde priva a liberdade, conduzindo o trabalhador à doença. Restaurar o direito à saúde dos profissionais de enfermagem é uma necessidade e o processo pode se iniciar por desnaturalizar o cuidado com o outro, atribuindo-lhe um novo estatuto... (ELIAS; NAVARRO, 2006)

  Siqueira; Siqueira; Gonçalves, 2006 apud AGUIAR, 2009, salienta que para se ter qualidade de vida não é necessário só saúde, é necessário também um envolvimento com o trabalho, família, amigos e outros. Desta forma, é necessário que o trabalhador de enfermagem reúna todos esses elementos citados acima, para que possa adquirir plenas condições de trabalho e de vida.

5.3 Ergonomia

  Atualmente, a ergonomia configura como uma estratégia importante para evitar e reduzir problemas diante de situações de trabalho que levam as doenças, como diz Alexandre (1998).
  “Ergo” significa “trabalho”, “nomos” quer dizer “regras determinadas para determinados trabalhos” (MAURO, 2007).
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OLIVEIRA J. Consolidação das leis do trabalho. São Paulo (SP): Saraiva; 1992.
ABRAMIDES MBC; CABRAL MSR. Regime de acumulação flexível e saúde do trabalhador. São Paulo em Perspectiva. [periódico na internet]. 2003 [acesso em 5 de maio de 2008]; 17(1): 3 – 10. Disponível em: http:www.scielo.brSIQUEIRA ACJ; SIQUEIRA FPC; GONÇALVES BGO. O trabalho noturno e a qualidade de vida dos profissionais de enfermagem. REME. REV. Min Enferm. [periódico na internet]. 2006 [acesso em 25 de abril de 2008]; 10(1). 41 – 5. Disponível em: http:www.scielo.br
A ergonomia é o estudo científico da relação entre o homem e seu ambiente de trabalho. Nesse sentido o termo ambiente abrange não apenas o meio propriamente dito em que o homem trabalha, mas também os instrumentos, os métodos e a organização deste trabalho (ALEXANDRE, 1998).


   “A ergonomia analisa as situações de trabalho desde o ponto de vista próprio e tem uma metodologia própria, procurando a harmonização do homem e do ambiente físico que o rodeia” (MAURO, 2007).
“A ergonomia interessa para que possamos estudar o que está afetando a saúde do trabalhador, o que está levando à exposição a fatores de risco, para agirmos ergonomicamente na intervenção das situações em questão(MAURO, 2007).
  Sluchak, 1992 apud Marziale; Carvalho, 1998, refere que para executar a atividade de trabalho são considerados componentes essenciais como as normas legais, regulamentos, situações éticas, ruídos, iluminação e temperatura.
  A ergonomia é apresentada através de 3 modalidades: da concepção, da correção e da conscientização. No que se trata de concepção é o estudo dos instrumentos ergonômicos no ambiente de trabalho antes da sua reconstrução. Na modalidade de correção procura-se melhorar as condições de trabalho já existentes. A modalidade de conscientização preocupa-se conscientizar os trabalhadores a trabalharem de forma segura, reconhecendo os fatores de risco existentes no ambiente de trabalho, para Iida, 1990 apud Marziale; carvalho, 1998.
  A aplicação dos princípios da ergonomia acarreta melhorias entre os objetos que o trabalhador maneja com o ambiente onde é trabalhado, melhorando a produtividade, reduzindo os custos laborais que se manifestam através do absteísmo, conflitos, desinteresse e rotatividade, para Couto, 1995 apud Marziale; Robozzi, 2000.
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IIDA I. Ergonomia: projeto e produção. São Paulo: Edgard Blucher, 1990. 465p.
SLUCHAK TJ. Ergonomics: origins, focus, and implementation considerations. A.A.O.H.N.J, v.40, n.3, p.105 – 112, Mar. 1992.COUTO HA. Ergonomia aplicada ao trabalho. Manual técnico da máquina humana. Belo Horizonte, Ergo, 1995, v.1, 353p.
Mauro (2007), cita os 7 objetivos da ergonomia: harmonia entre o homem e o meio que o rodeia; conforto e a eficácia produtiva; melhora a segurança e o ambiente físico no trabalho; diminui cargos físicos e nervosos; reduz as contra indicações do trabalho repetitivo; cria posto de trabalho com mais status e melhora a qualidade do produto como conseqüência do trabalho.

5.4 Fatores de risco e os problemas músculoesqueléticos que afetam o trabalho da enfermagem

A enfermagem dentro do hospital é a “maior força de trabalho, e suas atividades são frequentemente marcadas por divisão fragmentadas de tarefas, rígida estrutura hierárquica para o cumprimento de rotinas, normas e regulamentos, dimensionamento qualitativo e quantitativo insuficiente de pessoal, situação de exercício profissional que tem repercutido em elevado absteísmo e afastamento por doenças” (BARBOZA; SOLAR, 2003).

As profissionais de enfermagem que atuam em hospitais estão expostas a condições de trabalho precárias que, aliadas às suas condições de vida, potencializam as possibilidades de adoecimento. Se a saúde só é possível a partir da possibilidade real de cuidar de si e de usufruir a vida, esse fato parece difícil de ser alcançado por quem trabalha no hospital (ELIAS; NAVARRO, 2006).

  Os fatores de risco relacionados com atividades de enfermagem são: o transporte e movimentação de pacientes, posturas inadequadas, movimentos constantes de flexão e torção da coluna vertebral, fatores ergonômicos inadequados de mobiliários e equipamentos utilizados nas atividades de enfermagem.
  Grande parte das agressões a coluna vertebral em trabalhadores de enfermagem estão relacionados a fatores ergonômicos inadequados de mobiliários, posto de trabalho e equipamentos utilizados e que as dores musculares são causadas por traumas crônicos repetitivos.
  Existem algumas situações em ambiente hospitalar que favorecem os problemas músculoesqueléticos: armários de soro muito alto; pias e bancadas baixas; suporte de monitor alto; berços, camas e macas baixas; banheiro com espaço físico restrito; falta de equipamentos especiais para transportar pacientes e materiais e relação inadequada entre computadores, mesa e cadeiras, como cita Alexandre (1998).
Os fatores ergonômicos são aqueles que incidem no comportamento do trabalhador. É ele o desenho dos equipamentos, do posto de trabalho, a maneira que a atividade é executada. Comunicação, o meio ambiente (grau de insalubridade, iluminação, temperatura, etc.) (CAVASSA, 1997 apud MARZIALI; ROBAZZI, 2000).

Elias; Navarro (2006), refere que não foi encontrado nenhuma tecnologia que substitua o cuidado humano. Não há máquinas que banhem os pacientes ou troquem as roupas de camas. Os equipamentos que existem como monitores necessitam de pessoas para instalá-los e monitorá-los. A ciência e a tecnologia não podem substituir o trabalho vivo. Na maioria dos casos são as mulheres que executam o trabalho no cuidado aos pacientes, porém não é apenas o trabalho hospitalar que estas realizam somente, muitas mulheres em sua maioria realizam trabalhos não pagos e não reconhecido como o trabalho doméstico, o cuidado aos filhos e o cuidado aos familiares doentes trazendo conseqüências importantes para a saúde.
As profissionais de enfermagem são expostas a ambientes de trabalho intensamente insalubres, tanto no sentido material quanto subjetivo e, por estarem submetidas a condições de trabalho precarizadas e à baixa qualidade de vida, são expostas a situações nas quais a manutenção da saúde está prejudicada (ELIAS; NAVARRO, 2006).









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CAVASSA CR. Ergonomia produtividad, Balderos, Linsa Noruega. 1997, 415p.


  “As atividades dos profissionais de saúde são fortemente tensiógenos, devido às prolongadas jornadas de trabalho, ao número limitado de profissionais e ao desgaste psicoemocional nas tarefas realizadas em ambientes hospitalares” (GUIMARÃES; GRUBITS, 1999 apud ELIAS; NAVARRO, 2006).
  De acordo com Gurgueira; Alexandre; Corrêa Filho (2003), em um estudo realizado com trabalhadores de enfermagem que atuavam com pacientes de alto grau de dependência física nos últimos 12 meses, as áreas anatômicas mais afetadas foram: região lombar (59%), ombros (40%), joelhos (33,3%), região cervical (28, 6%).
  “A algia vertebral representa a forma mais comum de distúrbios músculoesqueléticos relacionados ao trabalho, resultando em custos substanciais para a sociedade” (MARRAS, 2000 apud RADOVANOVIC; ALEXANDRE, 2002).
  Grande parte das agressões a coluna vertebral estão associadas a inadequação  de mobiliários e equipamentos usados pela enfermagem e a má postura corporal.
Cerca de 89% dos trabalhadores de enfermagem apresentam algum tipo de algia, sendo a região lombar a mais acometida, como cita Marziale; Robazzi, (2000).
  A dor lombar é a queixa mais freqüente entre os trabalhadores de enfermagem, justificando as ausências no trabalho e procura de auxílio médico. As dores nos joelhos e ombros também fazem parte freqüente das queixas dos trabalhadores.
A dor em punhos e mãos pode ser justificada por uma carga horária prolongada, como refere Gurgueira; Alexandre; Corrêa Filho (2003).




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GUIMARÃES LAM; GRUBITS S; organizadores. Saúde mental e trabalho. São Paulo (SP): Casa do Psicólogo; 1999
MARRAS WS. Ocupational low back disorder causation and control. Ergonomics 2000; 43:880 - 902

  Rodovanovic; Alexandre (2002), refere que os trabalhadores de enfermagem apresentam elevada ocorrência de dor lombar, se comparados a outros profissionais, devido a alguns fatores: trabalho repetitivo, movimentação e transferência  de pacientes, espaço de trabalho restrito, falta de treinamento para uso de equipamentos, técnicas e práticas de levantamento impróprios, posturas inadequadas, uniforme incorretos, inaptidão física, insatisfação no trabalho e esforço físico.
... As afecções músculo-esqueléticos são causadas por inúmeros fatores individuais, físicos e psicossociais.
... A dor lombar é causada principalmente com a movimentação e transferência de pacientes (GURGUEIRA; ALEXANDRE; CORRÊA FILHO, 2003).


5.5 Medidas preventivas para redução dos problemas músculoesquelético na enfermagem

  Algumas medidas preventivas devem ser adotadas no ambiente hospitalar a fim de evitar problemas físicos. Deve-se considerar o espaço de trabalho, superfície de trabalho, limites de alcance e equipamentos.
  No ambiente hospitalar o espaço de trabalho deve utilizar-se de “um enfoque ergonômico, deve-se levar em conta fatores tais como o tipo de atividade manual a ser executada, posturas adotadas, dados antropométricos dos operadores, equipamentos e mobiliários envolvidos, entre outros” (ALEXANDRE, 1998).
  O dimensionamento adequado do ambiente de trabalho da enfermagem é de grande importância, levando em consideração que a restrição de movimentos durante a atividade laboral é prejudicial.
  Alexandre; Rogante (2000), cita que é necessário um espaço físico adequado para não restringir os movimentos, como: examinar o local e remover obstáculos; observar a disposição do mobiliário; obter condições seguras em relação ao piso; colocar suporte de soro ao lado da cama, para ficar no mesmo nível da maca; travar as rodas da cama, macas e cadeira de rodas; adaptar a altura da cama ao trabalhador e ao tipo de procedimento que será realizado.
  “Colocar pacientes que necessitam de auxilio ou que usam cadeiras de rodas em banheiros estreitos é um procedimento penoso para a equipe de enfermagem” (ALEXANDRE, 1998).
Grande parte das atividades realizadas são efetuadas nas enfermarias, pois é o local de permanência do paciente durante a internação. Dentre as atividades executadas, os trabalhadores de enfermagem consideram mais desgastantes fisicamente, as atividades de banho no chuveiro em pacientes que necessitam serem transportados através de cadeira de banho, arrumação de cama com paciente acamado, mudança de decúbito do paciente (MARZIALE; CARVALHO, 1998).

  A enfermagem necessita de no mínimo 55 cm de espaço para realizar as atividades. Os leitos devem estar a 1,15 cm de distância uns dos outros para manobras com macas. Sendo que a maior parte destas atividades são realizadas em pé, com postura inclinada. A temperatura do ambiente de trabalho deve ser confortável para o profissional, em torno de 20 a 24 ºC. A superfície de trabalho da enfermagem também deve ser considerada na questão de evitar problemas músculoesqueléticos. Normalmente, os hospitais têm pias e bancadas muito baixas, o que impõem o trabalhador a ficar em uma postura inadequada. O ideal é que a altura da pia e bancada seja do tamanho do trabalhador e o tipo de trabalho executado. O correto é que a superfície da bancada deve ficar de 5 cm a 10 cm abaixo da altura dos  cotovelos, para o indivíduo que trabalha em pé. Como nem sempre é seguido esses parâmetros no ambiente hospitalar, pode-se amenizar colocando os pés alternadamente em um banquinho, como cita Alexandre (1998).
Para uma pessoa que é obrigada a ficar em posição parcialmente inclinada durante muitas horas por dia, haverá menos fadiga se as costas ficarem retas e o centro de gravidade for mantido sobre os quadris e os pés. Fletir um quadril ajudará a assumir a postura das costas plana, pois eliminará a tração do flexor do quadril sobre a coluna lombar. Portanto, colocando um pé sobre um banquinho com o quadril e o joelho fletidos, permitirá uma posição vertical com uma lordose lombar menor (CALLIE, 1979 apud ALEXANDRE, 1998).



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CALLIE R. Síndromes dolorosas: lombalgias. São Paulo: Manole, 1979


  Foi verificado como refere Marziale; Carvalho (1998), que 90% das trabalhadoras femininas possuem altura entre 1,54 m e 1,71 m e peso entre 41,8 kg e 95 kg. A altura em pé dos trabalhadores varia entre 1,54 m e 1,76 m, sendo que no sexo feminino é de 1,62 m. A altura do cotovelo verificada em pé, varia entre 92 cm a 107 cm, no sexo feminino.
  “Diante da falta de atenção aos valores antropométricos em muitos hospitais, compete ao trabalhador adaptar essa situação não planejada e tal adaptação possa a ser entendida como esticar, curvar, entortar, contundir o corpo às exigências do trabalho” (BULHÕES, 1994 apud MARZIALE; CARVALHO, 1998).
  Os limites de alcance é um fator importante, pois a maioria dos profissionais de enfermagem necessita levantar ou retirar objetos acima do ombro, o que pode levar os problemas músculoesqueléticos.
  “Nestes procedimentos não só a fadiga muscular é um fator importante como também o fato da pessoa torna-se mais instável, com riscos adicionais” (CHAFFIN, 1987 apud ALEXANDRE, 1998).
  “O estiramento da coluna é muito utilizado ao se colocar ou retirar objetos de partes altas de estantes” (ALEXANDRE, 1998).
Há conselhos ergonômicos para resolver esta questão, como: “os objetos pesados devem ser guardados dentro de uma amplitude de alturas próximas a cintura e que objetos leves podem ser armazenados a qualquer altura situada entre o joelho e o ombro” (PALMMER, 1976 apud ALEXANDRE, 1998).
 



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BULHÕES I. Riscos do trabalho de enfermagem. Rio de Janeiro: Folha Carioca, 1994, 221p.
CHAFFIN DB. Manual materials handling and the biomechanical basis for prevention of low-back pain in industry. Am. Ind. Hyg. Assoc, J, v 48, n.12, p.989-96, 1987PALMMER C. Ergonomia, Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1976
Durante a execução de suas atividades ocupacionais, os trabalhadores de enfermagem frequentemente têm que por ou retirar objetos (soros, roupas, monitores, caixa de instrumental, etc.) de alturas elevadas. Para evitar esse problema, é aconselhável a realização de um planejamento para o armazenamento de materiais em armários e a utilização de uma escadinha. (ALEXANDRE, 1993; GIRLING, BIRN BAUM, 1998; MARZIALE, 1995 apud ALEXANDRE, 1998).


   Também não é aconselhável abaixar desnecessariamente, o ideal é que ao abaixar, os joelhos fiquem fletidos, e que os objetos pesados devem ser armazenados em uma altura próxima a cintura.
  Um dos pontos mais críticos no ambiente hospitalar é a falta de equipamentos auxiliares que facilitariam o manuseio de materiais e a manipulação de pacientes. A realidade é a utilização de mobiliários improvisados e inadequados, como camas pesadas com rodas estragadas, manivelas de cama de difícil movimentação, como refere Alexandre (1998).
  A enfermagem deve usar alguns princípios básicos da mecânica corporal durante a manipulação de pacientes, segundo Alexandre; Rogante (2000): usar o peso corporal como um contra peso ao do paciente; abaixar a cabeceira da cama ao mover um paciente para cima; utilizar movimentos sincrônicos; trabalhar o mais próximo possível do corpo do cliente, realizar manipulação de pacientes com a ajuda de pelo menos duas pessoas.
  Ao trazer o paciente para um dos lados da cama, é necessário ter duas pessoas, sendo que as duas devem ficar do mesmo lado da cama, de frente para o paciente; permanecer com uma das pernas em frente da outra, joelhos e quadris fletidos, trazendo os braços ao nível da cama; a primeira pessoa coloca um dos braços sob a cabeça do paciente e o outro braço na região lombar, a segunda pessoa coloca um dos braços na região lombar e o outro braço na região posterior da coxa, desta forma trazer o paciente para o lado da cama que desejar.
ALEXANDRE NMC.Contribuição ao estudo das cervicodorsolombalgias em profissionais de enfermagem. Ribeirão Preto, 1993. 186p. Tese (Doutorado) – Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo.
GIRLING B; BIRN BAUM R. An ergonomic approach to training for prevention of musculoskeletal stress at work. Physiotherapy, v.74, n.9, p.479-83, 1998.
MARZIALE MHP. Condições ergonômicas da situação de trabalho do pessoal de enfermagem em uma unidade de internação hospitalar. Ribeirão Preto, 1995, 113p. Tese (Doutorado). Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo.
Para colocar o cliente em decúbito lateral, quando este não é obeso, é necessário permanecer do lado para o qual for virar o cliente, cruzar seu braço e sua perna no sentido em que ele vai ser virado, flexionado o joelho, fazer o cliente virar a cabeça em sua direção e rolar a pessoa, utilizando seu ombro e joelho como alavancas.
  Ao movimentar o cliente, em posição supina, para a cabeceira da cama, o ideal é deixar a cama em posição horizontal, colocar um travesseiro na cabeceira da cama, colocar um lençol sob o corpo do cliente, duas pessoas permanecem, uma de cada lado do leito segurando firmemente o lençol e movimenta o paciente.
  O transporte de pacientes deve ser realizado com elementos auxiliares, como cintos e pranchas de transferência, discos giratórios e auxílios mecânicos.
  Para auxiliar o cliente a levantar da cadeira, é necessário usar o cinto de transferência, colocar o cliente para frente da cadeira, puxando-o alternadamente pelo quadril e permanecer ao lado da cadeira. O cliente deve colocar uma mão no braço mais distante da cadeira e a outra é apoiada pela mão do trabalhador. Com o outro braço o trabalhador circunda a cintura do paciente, segurando no cinto de transferência. Levantar de forma coordenada, com movimentos de balanço.
  Para transferir o cliente do leito para a cadeira de rodas, o ideal é posicionar a cadeira próxima à cama. Elas devem ter a mesma altura. Travar a cadeira e o leito, remover o braço da cadeira e elevar o apoio dos pés. Posicionar a tábua apoiada seguramente entre a cama e a cadeira. Outro modo é usar o cinto de transferência e colocar a cadeira ao lado da cama, com as costas para o pé da cama.  Travar as rodas e levantar o apoio para os pés. Salientar o cliente na beira da cama. Calçar o cliente com sapato. Segurar o cliente pela cintura auxiliando-o levantar, virar-se e sentar-se na cadeira.
Não existe maneira segura para transferir o cliente do leito para uma maca. O ideal é usar pranchas ou plásticos resistentes para a transferência. O cliente deve ser virado para que se acomode o material sob ele. Volta-se o cliente para a posição supina, puxando-o para a maca com a ajuda do material. Deve participar desse procedimento quantas pessoas forem necessárias, dependendo das condições e do peso do cliente.
Desta forma é importante rever a forma de como a enfermagem executa as atividades laborais. “O ambiente de trabalho, abrangendo aspectos físicos, psicossociais e organizacionais, age tanto direta quanto indiretamente sobre a saúde do trabalhador” (REINHAROT; FISCHER, 2009).
O ambiente de trabalho da enfermagem deve ser seguro e saudável e para isto deve existir um programa de prevenção contra acidentes e doenças. Os gestores das unidades hospitalares devem criar condições para um ambiente seguro e não só pensar que o trabalhador deve somente produzir. É necessário também modificar o conhecimento, o comportamento e as atividades individuais tanto dos gestores quanto dos profissionais de enfermagem, a fim de evitar ou minimizar os problemas músculoesqueléticos por falta de técnicas de ergonomia.













6 CONSIDERAÇÕES FINAIS


   O trabalho sobre como a ergonomia pode reduzir problemas músculoesqueléticos é de suma importância para a categoria de enfermagem, pois esta realiza procedimentos de movimentação e transferência a todo o momento, como também exerce atividades laborais em um ambiente às vezes insalubre.
  A equipe de enfermagem é um grupo de risco em relação ao desenvolvimento de distúrbios músculoesqueléticos, principalmente as lombalgias, por executar atividades fortemente tensiógenas e por falta de técnicas ergonômicas.
  A equipe de enfermagem é a categoria de grande importância para o funcionamento de unidade hospitalar, por isso devem existir programas de prevenção contra acidentes e doenças músculoesqueléticos, para que estes possam continuar desenvolvendo suas atividades laborais de forma produtiva e sem prejuízos a sua própria saúde e da unidade hospitalar.














7 REFERÊNCIAS


Aguiar ADF et al. Saúde do trabalhador de enfermagem que atua em centro de saúde. Rev. Inst. Cienc Saúde, n27 (2), p. 103-8, 2009. Disponível em: www.scielo.br > acesso em 25 de abril de 2010.

 

ALEXANDRE NMC. Aspectos ergonômicos relacionados com o ambiente e equipamentos hospitalares. Rev. Latino-Am. Enfermagem [online]. 1998, vol.6, n.4, pp. 103-109. Disponível em: www.scielo.br > acesso em 14 de abril de 2010.

 

ALEXANDRE NMC; ROGANTE MM. Movimentação e transferência de pacientes: aspectos posturais e ergonômicos. Rev. esc. enferm. USP [online]. 2000, vol.34, n.2, pp. 165-173. Disponível em: www.scielo.br > acesso em 14 de abril de 2010.

 

BARBOZA DB; SOLER ZASG. Afastamentos do trabalho na enfermagem: ocorrências com trabalhadores de um hospital de ensino. Rev. Latino-Am. Enfermagem [online]. 2003, vol.11, n.2, pp. 177-183. Disponível em: www.scielo.br > acesso em 14 de abril de 2010.

 

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Dr. Alexandre fisioterapeuta em natal CREFITO-1/7221-LFT
 alexandre.fisio1973@gmail.com