1 INTRODUÇÃO
Esta pesquisa teve como propósito discutir como a
ergonomia pode elaborar estratégias para reduzir problemas músculoesqueléticos
na enfermagem, já que o ambiente hospitalar traz uma série de problemas
ergonômicos, afetando a saúde do trabalhador deste meio, como refere Alexandre
(1998).
“As
transformações ocorridas nas últimas décadas no mundo do trabalho tem
repercutido na saúde dos indivíduos e do coletivo de trabalhadores de forma
intensiva” (ELIAS; NAVARRO, 2006).
Para a
redução de problemas ergonômicos, convém salientar que é necessário trabalhar a
ergonomia. “Para a ergonomia, as condições de trabalho são representadas por um
conjunto de fatores interdependentes, que atuam direta ou indiretamente na
qualidade de vida das pessoas e nos resultados do próprio trabalho” (MARZIALE;
ROBAZZI, 2000).
A enfermagem
de forma geral está exposta a condições de trabalho que potencializa as
possibilidades de adoecimento. Só é possível cuidar do outro, a partir do
momento que o profissional está bem mentalmente e fisicamente.
Diante do
exposto, é de real importância a aplicação dos princípios ergonômicos para a
enfermagem em virtude do desenvolvimento profissional.
2
OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
Esclarecer
como a ergonomia favorece a redução de problemas músculoesqueléticos para a
enfermagem.
2.2 Objetivos Específicos
2.2.1Levantar os fatores que desencadeiam os
problemas músculoesqueléticos para a enfermagem;
2.2.2 Identificar os problemas músculoesqueléticos;
2.2.3Enunciar as medidas preventivas para redução
dos problemas músculoesqueléticos.
3
JUSTIFICATIVA
A pesquisa
sobre como a ergonomia pode reduzir problemas músculoesqueléticos na enfermagem
se justifica pelo fato de que desde a década de 40, a Organização Internacional
do Trabalho (OIT), tem referido às condições inadequadas de trabalho nos
hospitais e recomendado a higiene e a segurança com intuito de adequar as
condições de trabalho a estes trabalhadores, como refere Marziale; Robazzi
(2000).
A condição
de trabalho hospitalar como inadequada ao trabalhador é palco de muitas
discussões e publicações, porém pouco se faz na prática e na rotina hospitalar
no que diz respeito à ergonomia, como refere Barboza; Soler (2003).
O hospital, de maneira geral é reconhecido como um ambiente insalubre,
penoso e perigoso para os que ali trabalham. Além dos riscos de acidentes e
doenças de ordem física aos quais os trabalhadores hospitalares estão
expostos... (ELIAS; NAVARRO, 2006).
“Os trabalhadores de enfermagem são um dos grupos
ocupacionais mais afetados por algias e lesões dorsais ocupacionais” (GUO et al, 1995; LAGERSTROM; HANSSONT;
HAGBBERG, 1998 apud PARADA;
ALEXANDRE; BENATTI, 2002).
Convém salientar que a ergonomia é a medida de
maior importância para reduzir problemas que originam de trabalho e que leva a
doenças músculoesquelético. Para que tal fato não ocorra em grande proporção, é
necessário que seja difundido em maior escala os quanto os aspectos ergonômicos
são importantes para o ambiente de trabalho.
_____________
GUO HR et al. Back pain
among workers in the United
States: national estimates and works at high
risk. Am J Ind
Med 1995; 28(5): 591 – 602
LAGERSTROM M; HANSSONT;
HAGBBERG M. Work related low back problems in nursing. Second J Works Environ Health 1998, 24(6): 449 – 64
4 METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa de revisão
bibliográfica com busca no site científico da Bireme. Os textos científicos
encontrados datam do período de 1998
a 2008.
A pesquisa bibliográfica – elemento imprescindível para a revisão e
virtual expansão do conhecimento - deve ser entendida como aquela baseada nos
livros e demais impressos disponíveis, inclusive documentos manuscritos (às
vezes denominada de pesquisa documental), e outras fontes pertinentes, onde se
busca encontrar resposta aos problemas formulados; restando saber como se
organizam e como podem ser organizadas as informações acessadas. (CERVO;
BERVIAN, 1983 apud SILVA, 2002)
_______________
CERVO AL; BERVIAN PA. Metodologia científica: para uso dos estudantes
universitários. 3.ed. São Paulo: Mc Graw – Hill, 1983
5 ERGONOMIA:UMA ESTRATÉGIA PARA REDUÇÃO DE
PROBLEMAS MÚSCULOESQUELÉTICOS NA ENFERMAGEM
5.1 Relação histórica entre o trabalho e os efeitos
sobre a saúde
Faz
parte da vida e da cultura da humanidade as relações entre o trabalho e o
adoecer. A Bíblia, em
Deuteronômio XXII: 8, fala da prevenção de acidentes de
trabalho. No final do século XVII e início do século XVIII, já se falava de
doenças ocupacionais, de formas de prevenir e tratar enfermidades. No século
XIX, é que de fato surgiram à prevenção de agressões contra a saúde, associadas
ao trabalho e reconhecendo que este é um dos aspectos importantes das condições
de vida, como refere Santana (2006).
As
diversas mudanças ocorridas na organização, nas condições e nas relações de
trabalho, principalmente nos países capitalistas avançados ou tardios, vem
repercutindo na saúde dos trabalhadores, que empenham grande parte de suas
energias físicas e espirituais em função do trabalho, segundo Elias; Navarro
(2006).
No
Brasil, os registros de problemas relacionados à saúde do trabalhador, datam do
século XIX, porém a incorporação da prática ocorreu bem tarde, nas escolas
médicas, de acordo com Santana (2006).
No
Brasil, a Constituição Federal de 1988 determinou a redução da jornada de
trabalho em turno “ininterruptos de revezamento” com redução diária da jornada
de trabalho a 6 horas ou negociação coletiva (BRASIL, 1988 apud MORENO;
FISCHER; ROTENBERG, 2003).
De acordo com
Mauro (2007), na era industrial, nasceu uma técnica que hoje se transformou em
uma ciência. As adaptações dos instrumentos como as características da
ergonomia, visam à redução de fadiga e acidentes.
_______________
BRASIL. Constituição Federal do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988
Com a
capacitação, os novos equipamentos exigiam dos operários mais habilidades em
condições ambientais desfavoráveis e tensas. Na ergonomia clássica, centrado na
adaptação da máquina ao homem, o tratamento ergonômico e mensuração de ambiente
antropométrico, medições que estudam a adaptação do trabalho ao trabalhador, em
relação à ambientes, equipamentos e roupas.
“Uma transformação saudável no processo de
trabalho certamente terá repercussões positivas para a saúde do trabalhador
estabelecendo um novo paradigma” (MAURO, 2007).
5.2 Saúde do trabalhador
“Cada trabalhador apresenta diferenças com
relação à estatura, peso, resistência à fadiga, capacidade auditiva e visual,
memória, habilidade motora e personalidades, e que devem ser considerados no
ambiente de trabalho” (IIDA, 1990 apud MARZIALE; CARVALHO, 1998).
Diante deste fato as relações entre
saúde-doença-trabalho têm ganhado destaque na área de saúde ocupacional
destacando-se:
Como prejuízos à saúde física e mental dos trabalhadores: prolongadas
jornadas de trabalho; ritmo acelerado de produção, por excesso de tarefas;
automação por realização de ações repetitivas com parcelamento de tarefas e
remuneração baixa em relação à responsabilidade e complexidade das tarefas
executadas (BARBOZA; SOLER, 2003).
Fatores físicos, químicos, psicossociais e
ergonômicos, devem ser analisados para que se possam caracterizar as condições
de trabalho hospitalar em cada instituição, de acordo com Marziale; Carvalho
(1998).
______________
IIDA I. Ergonomia: projeto e produção. São Paulo: Edgard Blucher, 1990.
465 p.
Entende-se por acidente típico aquele que “ocorre pelo exercício do
trabalho a serviço da empresa” (...) “Provocando lesão corporal ou perturbação
funcional que causa a morte ou a perda ou redução permanente ou temporária da
capacidade para o trabalho”.(OLIVEIRA, 1992 apud PARADA; ALEXANDRE BENATTI,
2002).
“O
trabalhador tem, por sua vez, consciência de sua capacidade técnica e sabe que,
para exercitá-la, precisa ter saúde” (ABRAMIDES; CABRAL, 2003 apud AGUIAR et al, 2009).
O adoecer na sociedade capitalista é
vergonhoso pois atrapalha a produção, devendo ser negado, para Elias; Navarro
(2006).
O trabalho da enfermagem é intenso, desgastante... Se a saúde está
ligada à liberdade, o trabalho no hospital onde priva a liberdade, conduzindo o
trabalhador à doença. Restaurar o direito à saúde dos profissionais de
enfermagem é uma necessidade e o processo pode se iniciar por desnaturalizar o
cuidado com o outro, atribuindo-lhe um novo estatuto... (ELIAS; NAVARRO, 2006)
Siqueira; Siqueira; Gonçalves, 2006 apud
AGUIAR, 2009, salienta que para se ter qualidade de vida não é necessário só
saúde, é necessário também um envolvimento com o trabalho, família, amigos e
outros. Desta forma, é necessário que o trabalhador de enfermagem reúna todos
esses elementos citados acima, para que possa adquirir plenas condições de
trabalho e de vida.
5.3 Ergonomia
Atualmente, a ergonomia configura como uma
estratégia importante para evitar e reduzir problemas diante de situações de
trabalho que levam as doenças, como diz Alexandre (1998).
“Ergo” significa “trabalho”, “nomos” quer
dizer “regras determinadas para determinados trabalhos” (MAURO, 2007).
_____________
OLIVEIRA J. Consolidação das leis do trabalho. São Paulo (SP): Saraiva;
1992.
ABRAMIDES MBC; CABRAL MSR. Regime de acumulação flexível e saúde do
trabalhador. São Paulo em Perspectiva. [periódico na internet]. 2003 [acesso em
5 de maio de 2008]; 17(1): 3 – 10. Disponível em: http:www.scielo.brSIQUEIRA
ACJ; SIQUEIRA FPC; GONÇALVES BGO. O trabalho noturno e a qualidade de vida dos
profissionais de enfermagem. REME. REV. Min Enferm. [periódico na internet].
2006 [acesso em 25 de abril de 2008]; 10(1). 41 – 5. Disponível em:
http:www.scielo.br
A ergonomia é o estudo científico da relação entre o homem e seu
ambiente de trabalho. Nesse sentido o termo ambiente abrange não apenas o meio
propriamente dito em que o homem trabalha, mas também os instrumentos, os
métodos e a organização deste trabalho (ALEXANDRE, 1998).
“A ergonomia analisa as situações de trabalho desde o ponto de vista
próprio e tem uma metodologia própria, procurando a harmonização do homem e do
ambiente físico que o rodeia” (MAURO, 2007).
“A ergonomia
interessa para que possamos estudar o que está afetando a saúde do trabalhador,
o que está levando à exposição a fatores de risco, para agirmos ergonomicamente
na intervenção das situações em questão” (MAURO, 2007).
Sluchak, 1992 apud Marziale; Carvalho, 1998,
refere que para executar a atividade de trabalho são considerados componentes
essenciais como as normas legais, regulamentos, situações éticas, ruídos,
iluminação e temperatura.
A ergonomia é apresentada através de 3
modalidades: da concepção, da correção e da conscientização. No que se trata de
concepção é o estudo dos instrumentos ergonômicos no ambiente de trabalho antes
da sua reconstrução. Na modalidade de correção procura-se melhorar as condições
de trabalho já existentes. A modalidade de conscientização preocupa-se conscientizar
os trabalhadores a trabalharem de forma segura, reconhecendo os fatores de
risco existentes no ambiente de trabalho, para Iida, 1990 apud Marziale;
carvalho, 1998.
A aplicação dos princípios da ergonomia
acarreta melhorias entre os objetos que o trabalhador maneja com o ambiente
onde é trabalhado, melhorando a produtividade, reduzindo os custos laborais que
se manifestam através do absteísmo, conflitos, desinteresse e rotatividade,
para Couto, 1995 apud Marziale; Robozzi, 2000.
____________
IIDA I. Ergonomia: projeto e produção. São Paulo: Edgard Blucher, 1990.
465p.
SLUCHAK TJ. Ergonomics:
origins, focus, and implementation considerations. A.A.O.H.N.J, v.40, n.3, p.105 – 112, Mar. 1992.COUTO HA. Ergonomia
aplicada ao trabalho. Manual técnico da máquina humana. Belo Horizonte, Ergo,
1995, v.1, 353p.
Mauro (2007),
cita os 7 objetivos da ergonomia: harmonia entre o homem e o meio que o rodeia;
conforto e a eficácia produtiva; melhora a segurança e o ambiente físico no
trabalho; diminui cargos físicos e nervosos; reduz as contra indicações do
trabalho repetitivo; cria posto de trabalho com mais status e melhora a
qualidade do produto como conseqüência do trabalho.
5.4 Fatores de risco e os problemas músculoesqueléticos
que afetam o trabalho da enfermagem
A enfermagem dentro do hospital é a “maior força de trabalho, e suas
atividades são frequentemente marcadas por divisão fragmentadas de tarefas,
rígida estrutura hierárquica para o cumprimento de rotinas, normas e
regulamentos, dimensionamento qualitativo e quantitativo insuficiente de
pessoal, situação de exercício profissional que tem repercutido em elevado absteísmo
e afastamento por doenças” (BARBOZA; SOLAR, 2003).
As profissionais de enfermagem que atuam em hospitais estão expostas a
condições de trabalho precárias que, aliadas às suas condições de vida,
potencializam as possibilidades de adoecimento. Se a saúde só é possível a
partir da possibilidade real de cuidar de si e de usufruir a vida, esse fato
parece difícil de ser alcançado por quem trabalha no hospital (ELIAS; NAVARRO,
2006).
Os fatores de risco relacionados com
atividades de enfermagem são: o transporte e movimentação de pacientes,
posturas inadequadas, movimentos constantes de flexão e torção da coluna
vertebral, fatores ergonômicos inadequados de mobiliários e equipamentos
utilizados nas atividades de enfermagem.
Grande parte das agressões a coluna vertebral
em trabalhadores de enfermagem estão relacionados a fatores ergonômicos
inadequados de mobiliários, posto de trabalho e equipamentos utilizados e que
as dores musculares são causadas por traumas crônicos repetitivos.
Existem algumas situações em ambiente
hospitalar que favorecem os problemas músculoesqueléticos: armários de soro
muito alto; pias e bancadas baixas; suporte de monitor alto; berços, camas e
macas baixas; banheiro com espaço físico restrito; falta de equipamentos
especiais para transportar pacientes e materiais e relação inadequada entre
computadores, mesa e cadeiras, como cita Alexandre (1998).
Os fatores ergonômicos são aqueles que incidem no comportamento do
trabalhador. É ele o desenho dos equipamentos, do posto de trabalho, a maneira
que a atividade é executada. Comunicação, o meio ambiente (grau de
insalubridade, iluminação, temperatura, etc.) (CAVASSA, 1997 apud MARZIALI;
ROBAZZI, 2000).
Elias;
Navarro (2006), refere que não foi encontrado nenhuma tecnologia que substitua
o cuidado humano. Não há máquinas que banhem os pacientes ou troquem as roupas
de camas. Os equipamentos que existem como monitores necessitam de pessoas para
instalá-los e monitorá-los. A ciência e a tecnologia não podem substituir o
trabalho vivo. Na maioria dos casos são as mulheres que executam o trabalho no
cuidado aos pacientes, porém não é apenas o trabalho hospitalar que estas
realizam somente, muitas mulheres em sua maioria realizam trabalhos não pagos e
não reconhecido como o trabalho doméstico, o cuidado aos filhos e o cuidado aos
familiares doentes trazendo conseqüências importantes para a saúde.
As profissionais de enfermagem são expostas a ambientes de trabalho
intensamente insalubres, tanto no sentido material quanto subjetivo e, por
estarem submetidas a condições de trabalho precarizadas e à baixa qualidade de
vida, são expostas a situações nas quais a manutenção da saúde está prejudicada
(ELIAS; NAVARRO, 2006).
_____________
CAVASSA CR. Ergonomia produtividad, Balderos, Linsa Noruega. 1997, 415p.
“As atividades dos profissionais de saúde são
fortemente tensiógenos, devido às prolongadas jornadas de trabalho, ao número
limitado de profissionais e ao desgaste psicoemocional nas tarefas realizadas
em ambientes hospitalares” (GUIMARÃES; GRUBITS, 1999 apud ELIAS; NAVARRO, 2006).
De acordo com Gurgueira; Alexandre; Corrêa
Filho (2003), em um estudo realizado com trabalhadores de enfermagem que
atuavam com pacientes de alto grau de dependência física nos últimos 12 meses,
as áreas anatômicas mais afetadas foram: região lombar (59%), ombros (40%),
joelhos (33,3%), região cervical (28, 6%).
“A algia vertebral representa a forma mais
comum de distúrbios músculoesqueléticos relacionados ao trabalho, resultando em
custos substanciais para a sociedade” (MARRAS, 2000 apud RADOVANOVIC;
ALEXANDRE, 2002).
Grande parte das agressões a coluna vertebral
estão associadas a inadequação de
mobiliários e equipamentos usados pela enfermagem e a má postura corporal.
Cerca de 89%
dos trabalhadores de enfermagem apresentam algum tipo de algia, sendo a região
lombar a mais acometida, como cita Marziale; Robazzi, (2000).
A dor lombar é a queixa mais freqüente entre
os trabalhadores de enfermagem, justificando as ausências no trabalho e procura
de auxílio médico. As dores nos joelhos e ombros também fazem parte freqüente
das queixas dos trabalhadores.
A dor em
punhos e mãos pode ser justificada por uma carga horária prolongada, como
refere Gurgueira; Alexandre; Corrêa Filho (2003).
____________
GUIMARÃES LAM; GRUBITS S; organizadores. Saúde mental e trabalho. São
Paulo (SP): Casa do Psicólogo; 1999
MARRAS WS. Ocupational low
back disorder causation and control. Ergonomics
2000; 43:880 - 902
Rodovanovic; Alexandre (2002), refere que os
trabalhadores de enfermagem apresentam elevada ocorrência de dor lombar, se
comparados a outros profissionais, devido a alguns fatores: trabalho repetitivo,
movimentação e transferência de
pacientes, espaço de trabalho restrito, falta de treinamento para uso de
equipamentos, técnicas e práticas de levantamento impróprios, posturas
inadequadas, uniforme incorretos, inaptidão física, insatisfação no trabalho e
esforço físico.
... As afecções músculo-esqueléticos são causadas por inúmeros fatores
individuais, físicos e psicossociais.
... A dor lombar é causada principalmente com a movimentação e
transferência de pacientes (GURGUEIRA; ALEXANDRE; CORRÊA FILHO, 2003).
5.5 Medidas preventivas para redução dos problemas
músculoesquelético na enfermagem
Algumas medidas preventivas devem ser adotadas
no ambiente hospitalar a fim de evitar problemas físicos. Deve-se considerar o
espaço de trabalho, superfície de trabalho, limites de alcance e equipamentos.
No ambiente hospitalar o espaço de trabalho
deve utilizar-se de “um enfoque ergonômico, deve-se levar em conta fatores tais
como o tipo de atividade manual a ser executada, posturas adotadas, dados
antropométricos dos operadores, equipamentos e mobiliários envolvidos, entre
outros” (ALEXANDRE, 1998).
O dimensionamento adequado do ambiente de
trabalho da enfermagem é de grande importância, levando em consideração que a
restrição de movimentos durante a atividade laboral é prejudicial.
Alexandre; Rogante (2000), cita que é
necessário um espaço físico adequado para não restringir os movimentos, como:
examinar o local e remover obstáculos; observar a disposição do mobiliário;
obter condições seguras em relação ao piso; colocar suporte de soro ao lado da
cama, para ficar no mesmo nível da maca; travar as rodas da cama, macas e
cadeira de rodas; adaptar a altura da cama ao trabalhador e ao tipo de
procedimento que será realizado.
“Colocar pacientes que necessitam de auxilio
ou que usam cadeiras de rodas em banheiros estreitos é um procedimento penoso
para a equipe de enfermagem” (ALEXANDRE, 1998).
Grande parte das atividades realizadas são efetuadas nas enfermarias,
pois é o local de permanência do paciente durante a internação. Dentre as
atividades executadas, os trabalhadores de enfermagem consideram mais
desgastantes fisicamente, as atividades de banho no chuveiro em pacientes que
necessitam serem transportados através de cadeira de banho, arrumação de cama
com paciente acamado, mudança de decúbito do paciente (MARZIALE; CARVALHO,
1998).
A enfermagem necessita de no mínimo 55 cm de espaço para realizar
as atividades. Os leitos devem estar a 1,15 cm de distância uns dos outros para
manobras com macas. Sendo que a maior parte destas atividades são realizadas em
pé, com postura inclinada. A temperatura do ambiente de trabalho deve ser
confortável para o profissional, em torno de 20 a 24 ºC. A superfície de
trabalho da enfermagem também deve ser considerada na questão de evitar
problemas músculoesqueléticos. Normalmente, os hospitais têm pias e bancadas
muito baixas, o que impõem o trabalhador a ficar em uma postura inadequada. O
ideal é que a altura da pia e bancada seja do tamanho do trabalhador e o tipo
de trabalho executado. O correto é que a superfície da bancada deve ficar de 5 cm a 10 cm abaixo da altura
dos cotovelos, para o indivíduo que
trabalha em pé. Como
nem sempre é seguido esses parâmetros no ambiente hospitalar, pode-se amenizar
colocando os pés alternadamente em um banquinho, como cita Alexandre (1998).
Para uma pessoa que é obrigada a ficar em posição parcialmente inclinada
durante muitas horas por dia, haverá menos fadiga se as costas ficarem retas e
o centro de gravidade for mantido sobre os quadris e os pés. Fletir um quadril
ajudará a assumir a postura das costas plana, pois eliminará a tração do flexor
do quadril sobre a coluna lombar. Portanto, colocando um pé sobre um banquinho
com o quadril e o joelho fletidos, permitirá uma posição vertical com uma
lordose lombar menor (CALLIE, 1979 apud ALEXANDRE, 1998).
_______________
CALLIE R. Síndromes dolorosas: lombalgias. São Paulo: Manole, 1979
Foi verificado como refere Marziale; Carvalho
(1998), que 90% das trabalhadoras femininas possuem altura entre 1,54 m e 1,71 m e peso entre 41,8 kg e 95 kg. A altura em pé dos
trabalhadores varia entre 1,54
m e 1,76
m, sendo que no sexo feminino é de 1,62 m. A altura do cotovelo
verificada em pé, varia entre 92
cm a 107
cm, no sexo feminino.
“Diante da falta de atenção aos valores
antropométricos em muitos hospitais, compete ao trabalhador adaptar essa
situação não planejada e tal adaptação possa a ser entendida como esticar,
curvar, entortar, contundir o corpo às exigências do trabalho” (BULHÕES, 1994 apud
MARZIALE; CARVALHO, 1998).
Os limites de alcance é um fator importante,
pois a maioria dos profissionais de enfermagem necessita levantar ou retirar
objetos acima do ombro, o que pode levar os problemas músculoesqueléticos.
“Nestes
procedimentos não só a fadiga muscular é um fator importante como também o fato
da pessoa torna-se mais instável, com riscos adicionais” (CHAFFIN, 1987 apud
ALEXANDRE, 1998).
“O estiramento da coluna é muito utilizado ao
se colocar ou retirar objetos de partes altas de estantes” (ALEXANDRE, 1998).
Há conselhos
ergonômicos para resolver esta questão, como: “os objetos pesados devem ser
guardados dentro de uma amplitude de alturas próximas a cintura e que objetos
leves podem ser armazenados a qualquer altura situada entre o joelho e o ombro”
(PALMMER, 1976 apud ALEXANDRE, 1998).
______________
BULHÕES I. Riscos do trabalho de enfermagem. Rio de Janeiro: Folha
Carioca, 1994, 221p.
CHAFFIN DB. Manual
materials handling and the biomechanical basis for prevention of low-back pain
in industry. Am. Ind. Hyg. Assoc, J, v 48, n.12, p.989-96, 1987PALMMER
C. Ergonomia, Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1976
Durante a execução de suas atividades ocupacionais, os trabalhadores de
enfermagem frequentemente têm que por ou retirar objetos (soros, roupas,
monitores, caixa de instrumental, etc.) de alturas elevadas. Para evitar esse
problema, é aconselhável a realização de um planejamento para o armazenamento
de materiais em armários e a utilização de uma escadinha. (ALEXANDRE, 1993;
GIRLING, BIRN BAUM, 1998; MARZIALE, 1995 apud ALEXANDRE, 1998).
Também não é aconselhável abaixar desnecessariamente, o ideal é que ao
abaixar, os joelhos fiquem fletidos, e que os objetos pesados devem ser
armazenados em uma altura próxima a cintura.
Um dos pontos mais críticos no ambiente
hospitalar é a falta de equipamentos auxiliares que facilitariam o manuseio de
materiais e a manipulação de pacientes. A realidade é a utilização de
mobiliários improvisados e inadequados, como camas pesadas com rodas
estragadas, manivelas de cama de difícil movimentação, como refere Alexandre
(1998).
A enfermagem deve usar alguns princípios
básicos da mecânica corporal durante a manipulação de pacientes, segundo
Alexandre; Rogante (2000): usar o peso corporal como um contra peso ao do
paciente; abaixar a cabeceira da cama ao mover um paciente para cima; utilizar
movimentos sincrônicos; trabalhar o mais próximo possível do corpo do cliente,
realizar manipulação de pacientes com a ajuda de pelo menos duas pessoas.
Ao trazer o paciente para um dos lados da
cama, é necessário ter duas pessoas, sendo que as duas devem ficar do mesmo
lado da cama, de frente para o paciente; permanecer com uma das pernas em
frente da outra, joelhos e quadris fletidos, trazendo os braços ao nível da
cama; a primeira pessoa coloca um dos braços sob a cabeça do paciente e o outro
braço na região lombar, a segunda pessoa coloca um dos braços na região lombar
e o outro braço na região posterior da coxa, desta forma trazer o paciente para
o lado da cama que desejar.
ALEXANDRE NMC.Contribuição ao estudo das cervicodorsolombalgias em
profissionais de enfermagem. Ribeirão Preto, 1993. 186p. Tese (Doutorado) –
Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo.
GIRLING B; BIRN BAUM R. An
ergonomic approach to training for prevention of musculoskeletal stress at
work. Physiotherapy, v.74, n.9, p.479-83, 1998.
MARZIALE MHP. Condições ergonômicas da situação de trabalho do pessoal
de enfermagem em uma unidade de internação hospitalar. Ribeirão Preto, 1995,
113p. Tese (Doutorado). Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de
São Paulo.
Para colocar
o cliente em decúbito lateral, quando este não é obeso, é necessário permanecer
do lado para o qual for virar o cliente, cruzar seu braço e sua perna no
sentido em que ele vai ser virado, flexionado o joelho, fazer o cliente virar a
cabeça em sua direção e rolar a pessoa, utilizando seu ombro e joelho como
alavancas.
Ao movimentar o cliente, em posição supina,
para a cabeceira da cama, o ideal é deixar a cama em posição horizontal,
colocar um travesseiro na cabeceira da cama, colocar um lençol sob o corpo do
cliente, duas pessoas permanecem, uma de cada lado do leito segurando
firmemente o lençol e movimenta o paciente.
O transporte de pacientes deve ser realizado
com elementos auxiliares, como cintos e pranchas de transferência, discos
giratórios e auxílios mecânicos.
Para auxiliar o cliente a levantar da cadeira,
é necessário usar o cinto de transferência, colocar o cliente para frente da
cadeira, puxando-o alternadamente pelo quadril e permanecer ao lado da cadeira.
O cliente deve colocar uma mão no braço mais distante da cadeira e a outra é
apoiada pela mão do trabalhador. Com o outro braço o trabalhador circunda a
cintura do paciente, segurando no cinto de transferência. Levantar de forma
coordenada, com movimentos de balanço.
Para transferir o cliente do leito para a
cadeira de rodas, o ideal é posicionar a cadeira próxima à cama. Elas devem ter
a mesma altura. Travar a cadeira e o leito, remover o braço da cadeira e elevar
o apoio dos pés. Posicionar a tábua apoiada seguramente entre a cama e a
cadeira. Outro modo é usar o cinto de transferência e colocar a cadeira ao lado
da cama, com as costas para o pé da cama.
Travar as rodas e levantar o apoio para os pés. Salientar o cliente na
beira da cama. Calçar o cliente com sapato. Segurar o cliente pela cintura
auxiliando-o levantar, virar-se e sentar-se na cadeira.
Não existe maneira segura para transferir o
cliente do leito para uma maca. O ideal é usar pranchas ou plásticos
resistentes para a transferência. O cliente deve ser virado para que se acomode
o material sob ele. Volta-se o cliente para a posição supina, puxando-o para a
maca com a ajuda do material. Deve participar desse procedimento quantas
pessoas forem necessárias, dependendo das condições e do peso do cliente.
Desta forma é importante rever a forma de como
a enfermagem executa as atividades laborais. “O ambiente de trabalho,
abrangendo aspectos físicos, psicossociais e organizacionais, age tanto direta
quanto indiretamente sobre a saúde do trabalhador” (REINHAROT; FISCHER, 2009).
O ambiente de trabalho da enfermagem deve ser
seguro e saudável e para isto deve existir um programa de prevenção contra
acidentes e doenças. Os gestores das unidades hospitalares devem criar
condições para um ambiente seguro e não só pensar que o trabalhador deve
somente produzir. É necessário também modificar o conhecimento, o comportamento
e as atividades individuais tanto dos gestores quanto dos profissionais de
enfermagem, a fim de evitar ou minimizar os problemas músculoesqueléticos por
falta de técnicas de ergonomia.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho sobre como a ergonomia pode reduzir problemas músculoesqueléticos
é de suma importância para a categoria de enfermagem, pois esta realiza
procedimentos de movimentação e transferência a todo o momento, como também
exerce atividades laborais em um ambiente às vezes insalubre.
A equipe de enfermagem é um grupo de risco em
relação ao desenvolvimento de distúrbios músculoesqueléticos, principalmente as
lombalgias, por executar atividades fortemente tensiógenas e por falta de
técnicas ergonômicas.
A equipe de enfermagem é a categoria de grande
importância para o funcionamento de unidade hospitalar, por isso devem existir
programas de prevenção contra acidentes e doenças músculoesqueléticos, para que
estes possam continuar desenvolvendo suas atividades laborais de forma
produtiva e sem prejuízos a sua própria saúde e da unidade hospitalar.
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Dr. Alexandre fisioterapeuta em natal CREFITO-1/7221-LFT
alexandre.fisio1973@gmail.com
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