Pouco
se conhece e se encontra na literatura científica sobre a atuação da reabilitação (fisioterapia) no pós-parto. Sabe-se que profissionais já atuam nesta área há
tempos, entretanto não se encontra descrito detalhadamente esta fundamental
assistência.
A
fisioterapia é de suma importância para uma melhor recuperação das puérperas;
seu papel consiste na recuperação, prevenção e tratamento de alterações em
todos os sistemas além das orientações gerais.
A
atuação fisioterapêutica durante o puerpério pode ser iniciada logo após o
parto, respeitando apenas um período de repouso de seis horas para o parto
normal e doze horas para o parto cesárea. O atendimento é iniciado com a coleta
de dados, da história da gestação e parto. Na avaliação são observados os dados
vitais e realizado o exame físico, deve-se verificar o padrão respiratório, a
mobilidade diafragmática e a expansibilidade torácica. (SOUZA, 1999).
Com
relação às mamas, devem ser inspecionadas quanto ao seu aspecto geral de
simetria, condições mamilares e da presença ou não de dores (POLDEN E MANTLE,
1997; SOUZA, 1999).
Nos
membros inferiores são avaliados os maléolos, fossa poplítea e região inguinal
em busca de sinais de formação de trombos, bem como observadas a presença de
edemas e varizes (SOUZA, 1999).
A
intervenção fisioterapêutica no puerpério imediato tem como objetivos:
proporcionar e orientar quanto ao posicionamento no leito, reeducação da função
respiratória, estimulação do sistema circulatório, restabelecer a função
intestinal, reeducação dos músculos abdominais, reeducação da musculatura de
assoalho pélvico, promover analgesia no local da incisão perineal ou cesárea e
orientações gerais em relação aos cuidados com as mamas, quanto às posturas
assumidas durante o cuidado com o bebê e da necessidade de continuar o
acompanhamento fisioterápico em nível ambulatorial.
O
fisioterapeuta deve orientar a paciente quanto a uma postura correta no leito,
como, por exemplo, o decúbito lateral para facilitar a eliminação dos flatus,
incentivar a deambulação precoce e evitar posturas antiálgicas, aliviando as
tensões musculares e promovendo analgesia, estimulando sempre uma postura
correta (SOUZA, 1999).
O
atendimento inicia-se com a reeducação diafragmática, através da propriocepção
em decúbito dorsal ou sentada, a puérpera coloca as mãos sobre o tórax e sobre
o abdome enquanto respira profundamente. Em caso de pós-cesariana os exercícios
respiratórios são de grande importância, pois com o uso da anestesia geral o
muco pode se acumular nos pulmões, para conseguir um padrão respiratório
diafragmática a puérpera pode imobilizar a incisão com as mãos ou com uma
almofada. (SOUZA, 1999; STEPHENSON E O’CONNOR, 2004).
É
importante estimular o retorno venoso, através de exercícios metabólicos de
extremidades para evitar a estase venosa. Em casos de presença de edema e veias
varicosas, devem ser indicados o uso de meias antiembólicas, repouso com os
membros inferiores elevados e manobras de drenagem manual (POLDEN E MANTLE,
1997; SOUZA, 1999).
A
normalização da função intestinal deve ocorrer até o quarto dia após o parto,
para isso são realizados exercícios de mobilização da pelve em decúbito
lateral, dorsal com flexão de quadril e joelhos ou sentada na bola suíça, de
forma lenta com movimentos curtos e repetidos até dez vezes, associado à
respiração, onde a puérpera inspira durante a anteversão e expira na
retroversão contraindo a musculatura abdominal. A deambulação precoce é
importante para estimular o peristaltismo intestinal que neste período está
diminuído, além de medida profilaxia de tromboembolismo (SOUZA, 1999;
STEPHENSON E O’CONNOR, 2004).
No
abdome é realizada a palpação, dois dedos acima do umbigo, pedindo a flexão
anterior de tronco da puérpera, para verificar a presença de diástase do
músculo reto-abdominal, onde segundo os critérios de Noble uma diástase de dois
dedos, mais ou menos trêscentímetros supra-umbilicais são considerados normais
com recuperação espontânea sem complicações. A musculatura abdominal nesta fase
deve iniciar sua atividade a partir da posição em decúbito dorsal com quadril e
joelhos fletidos através da propriocepção e da contração isométrica
principalmente do transverso abdominal, visando à recuperação da tonicidade da
musculatura abdominal que se encontra flácida e muito fraca.
O
assoalho pélvico deve ser trabalhado já no puerpério imediato independente do
tipo de parto, pois os mesmos são enfraquecidos durante a gestação. Caso a
mulher tenha sofrido episiotomia e no pós-parto queixar-se de dor no local da
sutura, a crioterapia pode ser indicada. Aplicação de compressas de gelo moído
por vinte minutos ou a massagem com o gelo na região perineal devem ser
utilizados para promover analgesia, diminuir o edema e a inflamação.
Em
caso de pós-cesariana, a mulher necessita de auxílio para corrigir a postura em
flexão assumida para proteção decorrente da dor pós-operatória. A estimulação
elétrica nervosa transcutânea (TENS) pode ser um recurso utilizado para
analgesia pós-operatória. Seu efeito ocorre através da modulação do processo de
neurocondução da dor, através da liberação de opióides endógenos a nível
medular e da hipófise e na teoria das comportas. Dois eletrodos podem ser
colocados em cada extremidade da incisão. (POLDEN E MANTLE, 1997; MELO et al., 2006).
Após
o parto a puérpera vai se ocupar a maior parte de seu tempo amamentando,
trocando fraldas e banhando o bebê, sendo muito comum o aparecimento de dores
na coluna, principalmente na região cervical devido à má posição adotada pela
mãe. Para que estas tarefas não se tornem um incômodo para a puérpera é
necessário que esta seja bem orientada em relação a posturas corretas.
Durante
a amamentação, a mãe deve-se sentar em uma cadeira, pode usar um travesseiro
para apoiar a coluna lombar, um outro sobre o seu colo para elevar o bebê e os
pés devem estar bem apoiados no chão ou sobre um banco. (POLDEN E MANTLE, 1997;
STEPHENSON E O’CONNOR, 2004).
O
bebê deve ser trocado em superfície que tenha altura próxima da cintura da mãe,
para evitar a flexão de tronco. Algumas mães preferem realizar esta tarefa ao
nível do solo, assim a posição semi-ajoelhada e sentada sobre o calcâneo
proporciona uma boa postura sem desconfortos (POLDEN E MANTLE, 1997; DIFIORI,
2000).
Em
relação ao banho do bebê, deve-se evitar encher a banheira por meio de vasilhas
ou pegá-la enquanto cheia, para isso a banheira pode ficar dentro do banheiro
de modo que a mãe possa ajoelhar-se ao seu lado, para ser cheia e esvaziada sem
esforços. O carrinho deve ter a altura da cintura da mulher, para evitar a má
postura e assim desconfortos na coluna (POLDEN E MANTLE, 1997; DIFIORI, 2000).
Neste
período a mulher deve ser orientada e conscientizada da importância de
continuar o acompanhamento fisioterapêutico nas outras fases do puerpério.
No
pós-parto tardio os objetivos de tratamento são: reeducação da função
respiratória, tratamento de possíveis complicações e desconfortos
músculo-esqueléticos (tenossinovite, cervicalgias e incontinência urinária de
esforço), reeducação e ganho de força da musculatura de assoalho pélvico,
reeducação dos músculos abdominais.
Após
o parto é comum o surgimento de tenossinovite, causada por esforços
repetitivos. A mais comum é a de DeQuervain que é a inflamação da bainha do
extensor curto e abdutor longo do polegar, a principal queixa é dor que é
agravada pelo teste de Finkelstein, podendo apresentar edema e crepitação. O
tratamento na fase aguda tem como objetivo a redução da inflamação e analgesia.
Assim que estes diminuírem, inicia-se alongamento em amplitude indolor e o
fortalecimento desta musculatura (HEBERT; XAVIER, 1998; PRENTICE E VOIGHT,
2003). É muito comum também o surgimento de cervicalgias no puerpério tardio. Estas
podem ser prevenidas através se orientações gerais quanto a posturas corretas e
alongamentos. É indicado o uso de técnicas de calor devido aos seus efeitos
terapêuticos. Após, podem ser realizados alongamentos da região cervical,
técnicas de massagem e de liberação miofascial (KITCHEN E BAZIN, 1998).
Os
exercícios para o assoalho pélvico devem ser realizados com freqüência e de
forma gradativa e em diversas posições, decúbito dorsal, lateral, ventral,
sentada, em pé e de cócoras. A bola suíça é um instrumento de grande valia para
treino do assoalho pélvico, pois melhora a percepção sensorial e a força desta
musculatura além de exercitar simultaneamente várias estruturas musculares dos
segmentos pelve-perna e pelve-tórax (CARRIÈRE, 1999).
Ainda
no puerpério tardio a diástase do reto abdominal pode estar presente. O
trabalho de contração isométrica do transverso abdominal e os exercícios de
mobilização pélvica com contração do reto-abdominal devem continuar e devem ser
realizados em todas as posições.
Com
o avançar no puerpério, ou seja, já no período remoto, a mulher deverá ter
passado por uma avaliação com o ginecologista e somente após deve iniciar os
programas de exercícios para esta fase. Antes que seja traçado um plano de
tratamento é necessário que a puérpera passe por uma nova avaliação
fisioterapêutica.
Os
objetivos de tratamento deste período são: ganho de força da musculatura de
assoalho pélvico, reeducação e ganho de força dos músculos abdominais,
reeducação postural, condicionamento físico e relaxamento.
O
assoalho pélvico deve continuar sendo fortalecido em todas as posições. O
fortalecimento abdominal só pode ser iniciado após uma avaliação, observando a
presença ou não de diástase do reto-abdominal. A contração isométrica do
transverso abdominal tem que ser realizada em todas as posições. (POLDEN E
MANTLE, 1997; DIFIORI, 2000).
Durante
a gestação a mulher tem que adaptar sua postura para compensar a mudança do
centro de gravidade, levando ao aumento das curvaturas lombar e torácica, após
o parto esses desvios posturais estão presentes e devem ser tratados. A
avaliação postural é indispensável para traçar um plano de tratamento
individual de acordo com a necessidade de cada puérpera.
A
bola suíça é um instrumento que auxilia para a reeducação postural, pois ela
aumenta a percepção proprioceptiva de alinhamento postural, treina equilíbrio e
coordenação (CARRIÈRE, 1999).
Os
alongamentos musculares podem contribuir bastante para reduzir a tensão
muscular, melhorar a postura, mas deve-se tomar cuidado com o efeito
remanescente da relaxina sobre as articulações. O alongamento para aumentar a
flexibilidade deve ser evitado até a 16º. a 20º. semana de pós-parto, já o
alongamento para a manutenção do comprimento muscular pode ser realizado
(DIFIORI, 2000).
Um
método muito utilizado para a reeducação postural é o isostretching. Este é
definido como uma ginástica postural global ereta já que a maioria dos
exercícios é executada na posição vertical. O corpo todo trabalha de maneira
concêntrica e excêntrica durante a expiração, a musculação e o relaxamento são
incluídos a cada postura, solicitando da coluna um auto-engrandecimento
(REDONDO, 2001).
O
condicionamento físico é extremamente importante para ajudar na recuperação
pós-natal. Seus efeitos vão auxiliar na reabsorção do excesso de líquido retido
na gravidez, aumentar o retorno diminuindo a estase das veias varicosas,
melhorar a eficiência do coração e dos pulmões auxiliando a puérpera a retornar
para suas tarefas de maneira mais fácil, contribui para a perda de peso além de
diminuir o estresse e a ansiedade (DIFIORI, 2000).
Deve-se
tomar cuidado quanto à escolha dos exercícios, lembrando do efeito da relaxina
sobre as articulações esses efeitos podem se prolongar se o aleitamento
continuar. A atividade de alta intensidade é contra-indicada podendo, reduzir a
quantidade de leite disponível para a próxima amamentação e a produção de ácido
lático durante o treino intensopode dar um sabor ácido ao leite. A sessão de
condicionamento cardiovascular deve ser dividida em aquecimento, treino
cardiovascular e resfriamento sendo que as atividades de baixo impacto são as
mais indicadas (DIFIORI, 2000).
Os exercícios físicos são muito importantes para
puérperas com depressão leve ou melancolia, os exercícios pós-natais promovem
melhora da resistência física, diminui a fadiga e recupera a autoconfiança. São
importantes dentro do tratamento técnicas de relaxamento. Vários são os métodos
utilizados, devendo sempre estar associado a respiração profunda reduzindo o
estresse, ansiedade e todas as conseqüências físicas que elas acarretam.
Dr. Alexandre fisioterapeuta em natal CREFITO-1/7221-LFT
alexandre.fisio1973@gmail.com
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